sexta-feira, 13 de junho de 2008

Qual é o sinal da libertação? Não mais se envergonhar diante de si próprio.

Faz alguns dias que eu to vivendo no automático. Diria semanas, mas não quero me comprometer. Automático porque é acordar - faculdade - estágio - faculdade - dormir (tá algumas atividades nada estimulantes no decorrer do dia: comer em cinco minutos lanches da padaria barata e sem graça da esquina).
Definitivamente essa não sou eu. Definitivamente essa nunca foi a Eliane que eu achava que seria com 20 anos, 6 meses e 23 dias. Daí eu falei uma frase hoje de manhã para alguém, aquela máxima do Niezsche, "Torna-te quem tu és". Não quero descobrir que eu sou assim. Mas, na real, estou me transformando em quem eu não sou e não me tornado quem eu sou.

Automático porque tu acorda e pra tudo mundo tu olha e diz: "Oi, tudo bem?!". Não, mundo, não tá tudo bem. Quer me ouvir? Não, ninguém tem tempo. É verdade até porque eu não queria/não tenho tempo. Relógios! Pior invenção moderna.
Sim, porque se não existissem relógios eu não esperaria o dia seguinte para fazer/esperar fazer as coisas que aconteceram no mesmo horário do dia anterior. Eliane, oi, tempo não se repete. Só na invenção humana.

Humanos. Pessoas. Parei de tentar entendê-los porque é muita gente junta. É melhor tentar entender uma pessoa do que uma humanidade. Mas não vou fazer isso comigo mesma.

Automático porque somos criados/educados para agir dessa maneira. Não há espaço para pensar. Ao menos que alguém pague a conta do analista quando tu estiveres na pior.
Na pior em Paris e Londres é um livro bem bacana do Orwell, mas eu não estou nem em Paris nem em Londres. Estou numa provinciana Porto Alegre. É pior estar na pior aqui?

E quando uma parte de mim quer sair do automático, simplesmente todas as parte do meu 'eu' entram em colapso. Um turbilhão pior que o do nosso amigo Saint-Preux, na Paris de Rousseau.

Daí tu tem uma vontade enorme de dizer pro mundo parar. Sim, páre o mundo que eu também quero descer. Mas ninguém ouve. Tu espera que um ser celestial ou forças não racionais façam alguma coisa. Excesso de racioonlaidade, às vezes, é se tornar besta porque elas realmente existem (as forças) e elas estão brincando comigo. Rindo da minha desgraça (precisava justificar e tirar a culpa das minhas costas como para dizer que se o fracasso e a ignorância tivessem um articulador. Oras, Eliane, onde está teu apreço pela cientificidade?)

A Anna escreveu num post dela essa frase: Fernando Pessoa citaria, em uma das crises existenciais de Fausto, que 'Quem sente chora, mas quem pensa não'". E eu lembrei do diálogo que Irvin D. Yalom criou para Nietzsche com o Dr. Breuer em Quando Nietzsche Chorou:

"Aqueles que desejam a paz de espírito e a felicidade têm de acreditar e abraçar a fé, enquanto aqueles que desejam perseguir a verdade devem renunciar à paz de espírito e devotar sua vida à investigação".

Dizem que a gente só sabe quando fez a escolha certa lá no fim da vida, tipo o poema de Jorge Luiz Borges, Instantes, poema esse que já postei aqui no blog. Daí tu vê toda a tua vida e percebe se fez ou não a escolha certa. Mas tem que existir um jeito de saber, pelo menos uma parte, antes. É um peso muito grande para se carregar sozinho, ir levando, ir vivendo (ou ir existindo). Então, se eu viver até uns 80 anos, 50 ou 30, vou saber se ter escolhido o tormento foi melhor. Mas como? Só existe um caminho a ser vivido! Não existem outros caminhos e uma segunda opção para a história. Então, não é o caminho que influencia, é tudo o que tu fez pelo caminho que vai influenciar.

É hora de pegar uns desvios. Que desvios se essa estrada não tem desvios? Ir levando e se acostumando que tudo está so far way?

Diriam os mais sábios que estou dialogando com a esperança.

11 comentários:

Anna Fernandes disse...

não tem como pensar e sentir? acreditar e investigar? Acho esse meio termo necessário para que o pensamento ou o sentimento (depende da escolha), sozinhos, não nos levem à loucura. Não à loucura criadora, mas à destrutiva. Porque, afinal, foi o fim de Nietzche. Mas isso pode ser uma utopia ou uma nova forma de bipolarismo... o mundo deveria entregar um manual assim que nos recebesse. e é claro que em anexo viria 'passo-a-passo de como não se render ao automático'.
Mas Eliane, sempre que precisar, eh soh me convidar para um café que eu jogo meu relógio fora =)

Carlos. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos. disse...

Olha só, um blog criminoso. [vrg]
(sim, a piada já tá gasta, mas não me contive.)

Linkada \o

Anônimo disse...

sinto-me como tu em alguns momentos... tbm ligo o piloto automático às vezes e me pergunto até q ponto vivo minha própria vida...

e te entendo!
beijos!

Amanda S. disse...

Eu gosto de viver minha vida no automático ;D

Tem até uma música do Rancid... tá, esquece.

Enfim, vim complementar o comentário da Anna: eu sequer uso relógio, sweetie.

E que diferença faz saber se fez a escola certa? Orgulho? Que pressa é essa? Cara, frase mais Amanda: relaaaaxa...
Eu seria hippie se gostasse de Led Zeppelin e essas coisas.

Anônimo disse...

Oi Eliane, assim ó:
- acho que tu assumiu muitas responsabilidades ou não imaginou que duas faculdades e estágio tiram todo o tempo de alguém. Admiro vocês (que fazem duas faculdades). Eu não conseguiria. Às vezes falta tempo pra mim, imagina pra vocês. Mas, agora, será que isso é bom? Como tu mesma disse esses tempos: embriague-se! Pelo menos há algum lazer nisso.
- talvez seja porque tu usou um monte de citações pra fazer esse texto, mas me lembrei de uma ao lê-le: "O excesso de gente impede de ver as pessoas" - do Mario Quintana.
- sim vou pra Cuba pós-Fidel porque só agora consegui juntar $$$ suficiente. Não sou lá muito fã dele, nem comunista. No entanto, Cuba desperta curiosidade em mim. Quero ir lá pra conhecer, beber rum, fumar charutos. Na volta, quem sabe eu escreva alguma coisa sobre a Cuba sem Fidel. Na hora não vai dar, porque não levarei computador... Mas, foi uma belíssima ironia, a tua.

beijo moça! Te cuida, querida

Luana Duarte Fuentefria disse...

bah, Eliane.
Pode ser que tu não estejas satisfeita com o que estás fazendo.
Porque mesmo vivendo no automático, acho que quando a gente faz o que gosta a gente fica tri satisfeito.
Mas o que eu acho mesmo é q tu tá cansada, e só. Essa coisa de final de semestre é pra matar mesmo. Vais ver que daqui a pouco tu tá bem de novo. Ne te preocupa.

Amanda S. disse...

A Luana disse tudo.

Eliane! disse...

mas fazer o que se gosta não tem automático. é VIVER!
tá, coisas que só minha cabeça compreende.

Anônimo disse...

"Faz alguns dias que eu to vivendo no automático". Somos duas, também sinto que as coisas andam sem graça e com certeza já renunciei minha paz de espírito há anos. Mas, bem como tu diz, será que fazer isso e viver é a mesma coisa? Eu já não sei se quero continuar no jornalismo, ando um pouco intoxicada com a mentalidade dos colegas, o futuro incerto e o grupo de antas antiéticas da atualidade. Se é esse o nosso futuro, ser jornalistas, espero que a gente consiga mudar alguma coisa, que a gente consiga pelo menos se sentir bem nessa profissão. E por bem, eu digo viver e correr ao mesmo tempo.

Bjos

Tássia Porto disse...

a cada momento vivido tu pode parar pra pensar se naquele momento fez a escolha certa. mas, de qualquer forma, acho que nem no final da vida temos a certeza se fizemos tudo da forma correta. é meio patético morrer na dúvida, mas talvez seja melhor assim do que passar a vida no eterno arrependimento de saber que fez uma escolha errada.

(credo, escrevi uma bíblia O_o)