sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Fernando Pessoa

Fui devolver meus livros na biblioteca. Pra mim, é o melhor lugar do mundo. Depois do cinema e da Garagem Hermética com uma banda tocando por lá.

Queria ler Chico Buarque. Não sei porque encasquetei que queria ler tudo que o cara mais interessante do Brasil escreveu. Seu último livro estava lá, me chamando, pedindo por mim.

Mas sozinho num canto, silencioso como o autor, estava O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa. Passei a mão pelas suas mais de 500 páginas e larguei o Benjamim do Chico sobre a mesa (embora tenha levado este também). Pessoa sempre me encantou. Muito. O melhor poeta, o que me faz chorar assim como Quintana. O homem descrente daquela sociedade pós-moderna que emergia para sua geração. A sociedade do Relativismo e do significado relativo do Relativismo.

“Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deverias inibir-me de acabar;deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar;acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia.”


E explica os mistérios dos gênios sem números, os gênios das palavras:

“A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida.”

Dos gênios que viveram à parte da realidade e aproveitaram a vida pela imaginação e sonhos:

“Se vos sonhais sonhar, o sonho que sonhais é menos real acaso do que o sonho que vos sonheis sonhando.”

E entendemos, afinal, o porque do recluso e da abstinência da vida real, da vida londe do pó, dos livros, do escuro e do quarto dos papéis:

“Tanto me exteriorizei dentro de mim que dentro de mim não existe senão exteriormente. Sou a cena viva onde passam vários atores representando peças.”

Recomendo certamente esse livro. Mesmo não ter sonhado ainda com a metade, já sonhos com as folhas passadas, com as frases que dentro de mim representam uma trilha literária e não sonora feita de silêncios e sufocos, como a obra de Fernando Pessoa. O poeta mais complexo, mais eterno.

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